Mercearia dos Anos 60
Josué era o merceeiro da aldeia, herdou do pai o negócio e foram mais de cinco décadas de volta dos tostões que recolhia das pessoas da terra, em troca de produtos alimentares e domésticos. Foi de certa forma um “menino privilegiado”, porque não passou fome, teve brinquedos e muitas outras coisas que miúdos da sua idade apenas ouviam falar. Numa época em que a maioria das pessoas não pagava a pronto, existia um livro de dívidas, um elemento indispensável, onde Josué assentava com frequência as dívidas dos seus clientes.
Tantas histórias que esta mercearia podia contar se falasse… infelizmente não fala. O que “fala” são as cartas e documentos que encontrei no interior e a que cuidadosamente tirei fotos, para depois ler com mais calma e escrever esta história.
Numa delas, Maria, a esposa de Josué, conta à sua prima que vão ter de fechar a mercearia, porque “as pequenas mercearias não conseguem sobreviver” e que “a culpa é das grandes superfícies, porque nós não conseguimos competir com elas nos preços”. Isto mencionado numa carta de 1998, altura em que a mercearia deve ter fechado, porque não encontrei outras cartas ou documentos com uma data posterior a esta. Estranho é existirem calendários antigos na parede, um de 1987 e outro de 1995.
Já por esta altura o senhor Jesué teria 66 anos e pergunto-me, será que ainda é vivo? Neste momento, teria 86 anos por isso é possível que esteja. Certo é que a vida como merceeiro já passou, a mercearia fechou e nos últimos 20 anos foi ficando esquecida.
Outro facto estranho é no primeiro andar existirem dois quartos, um deles parecia ter pertencido a uma criança (posters de carros nas paredes e brinquedos), no entanto a mercearia não possuía cozinha ou sala, apenas dois quartos, o que me leva a crer que o Sr. Josué e mulher não moravam ali, mas posso estar enganado.
Já encontrei algumas mercearias devolutas desde que comecei a fotografar locais abandonados, assim de repente lembro-me de cinco (algumas ainda por publicar), mas esta é sem dúvida a que tem mais coisas no interior, até acho que tem coisas a mais. São tantos produtos, caixas e máquinas em cima uns dos outros, que até me senti um pouco desorientado por onde devia começar a fotografar.
Tenho muitas outras fotos tiradas no local que podia editar e publicar, mas para já julgo que estas sejam suficientes, talvez daqui a uns tempos publique mais, mas nunca fui adepto de publicar 40 fotos do mesmo sítio, prefiro publicar poucas, mas boas (como no antigo provérbio, mais vale qualidade do que quantidade). Mas para quem quiser ver mais sobre esta mercearia, irá ser lançado um vídeo no canal do youtube do projeto, em breve.
Incrivel! Os meus avós tiveram uma mercearia de aldeia, a única por sinal, e tinham de tudo! Estas fotos fizeram reavivar os tempos que lá passei e os rebuçados que o meu avô me dava. Os armários de madeira são fantásticos e as gavetas “dos parafusos” eram incriveis.
Sem dúvida Ana, um local incrível… pena que este género de locais já não existem, ou se existem são muito poucos e tem os dias contados infelizmente.
Olá André,
Partilho a sensação com a Ana, em 1984, vim do Brasil minha terra de origem, meus pais Portugueses, minha mãe Transmontana, meu pai natural da Bairrada, miúdo da cidade grande, acostumado a ter tudo. Recuei no tempo vim para esta zona Rural, na altura, onde se assistia ainda televisão a preto e branco e eu sempre conheci televisores a cores, onde tive a honra de ainda conhecer alguns locais como este a funcionar, alguns hoje extintos e outros com alguma marca ainda da sua existência a funcionar, ” ainda me lembro de ir comprar marmelada embrulhada em papel pardo! ”
Parabéns pelo trabalho.
Muito obrigado pelo comentário Luiz, obrigado por partilhar a sua história. Cumprimentos!
Bom dia,
Ao entrar neste sítios tenta pedir autorização ou entra sem dizer nada? Não tem medo que depois haja pessoas que la voltem para tentar levar o que acabou de mostrar nas imagens?
Como podem ir ao local roubar seja o que for, sem saberem onde é? Não divulgo localizações.
o tempo em que a Olá fazia gelados como deve ser…não é como agora que são 17 magnum , 1 supermaxi e um epá.
Aconselho vivamente a preferirem Nestle (antigamente Camy).