Casa dos Quadros
Mais um dia, mais uma aventura, desta vez explorei uma casa abandonada em que a maioria das divisões está em péssimo estado, mas surpresa das surpresas, uma das divisões estava intacta, com um papel de parede bonito, cheia de quadros pendurados e outros objetos interessantes. De certa maneira, esta sala parece deslocada do resto da casa, digamos mais imponente e elegante e felizmente não foi tão afetada pelos elementos como o resto da casa, que apelidei de “Casa dos Quadros”.
Na sala dos quadros, está um quadro enorme de uma mulher. De imediato me apercebi que se tratava de um quadro muito bem pintado, estudei artes e design e tive aulas de pintura e, portanto, sei diferenciar facilmente uma obra amadora de uma obra mais refinada.
Alguns dias após visitar o local, fiz uma pesquisa pelo nome do pintor e adivinhe-se… trata-se de um pintor e professor referenciado, estrangeiro e bastante conhecido que fundou uma escola de artes e que tem a sua obra exposta num museu. Estamos a falar, portanto, de um quadro importante, que está pendurado numa casa abandonada, em avançado estado de degradação e relativamente modesta. Como pode estar um quadro desta importância num local destes?
A casa pertenceu a uma família portuguesa, mas o pintor não é português, nem tem ascendência portuguesa e não existe nenhuma relação entre o artista e a família, pelo que pude investigar com base nos documentos que encontrei nada casa e pesquisas posteriores. Na casa, existem algumas cartas, documentos sobre um negócio ligado à viticultura, manuais escolares, e bastantes retratos. Uma das coisas que mais me deixa incrédulo quando visito estas casas é encontrar estes retratos. Estamos a falar de uma época em que as fotos e retratos não eram banais como hoje, onde era incomum as pessoas terem muitas fotos, as fotos eram poucas e eram importantes por isso, fico sempre surpreendido que os herdeiros (se existirem), não guardem estas memórias e as deixem apodrecer nestes locais.
Após mais algumas pesquisas sobre o quadro e a casa, foi realizado um contato com o museu que expõe a obra deste pintor. Fiquei a perceber que este quadro é um retrato da mulher do pintor, um dos primeiros quadros do artista e que estava digamos “perdido”, um quadro com mais de 130 anos. Era importante recuperar este quadro e levá-lo para junto da restante coleção, mas claro que para isso é preciso chegar aos donos atuais da casa, o que nem sempre é possível. O tempo dirá o que vai acontecer ao quadro e se obtiver mais informações, atualizarei este artigo.
Toda esta história lembra-me um pouco o quadro de Pablo Picasso, que foi encontrado em Amesterdão em Março deste ano, após ter sido roubado há 20 anos. Ou os quadros roubados pelos nazis durante a guerra, muitos deles ainda desaparecidos. Obviamente que é uma comparação descabida no sentido que a magnitude deste pintor está longe de ser igual à de Picasso, mas é inevitável pensar numa história deste género.
Nunca trazes nenhum ‘trofeu’destes sitios? Imagino que alguns sitios sejam desafiantes, pensar como entrar…
Raramente Tiago, de casas então nunca. Foram pertences pessoais das pessoas, não acho correcto levar alguma coisa e nem ia sentir-me bem em fazê-lo, já para não falar que há saída destes locais podemos ser interceptados por alguém e é bem diferente ser “apanhado” com algum objecto, ou só com fotografias.
Mas devo confessar que em fábricas de cerâmica já trouxe uma lembrança ou duas pelo simples facto que nesse género de fábricas existem milhares de peças, maioria partidas mas existe sempre uma ou outra em bom estado ainda, e um dia se limparem a fábrica vai tudo para o lixo… Nesses casos acho que não tem mal nenhum trazer uma lembrança qualquer.
Olá André, já conheço o teu blogue há uns aninhos e por cá vou passando de vez em quando. Criaste aqui um arquivo de fotografias incríveis, gosto muito do teu trabalho e de ler a breve informação que reúnes para além das fotografias. Fiquei curiosa. Podes partilhar o nome do artista?
Olá Sofia. Lamento mas não posso partilhar, pelo menos até saber que o quadro estar num sítio seguro, idealmente num museu, que é onde ele deveria estar mas infelizmente ainda não aconteceu.
Esse quadro parece ser maravilhoso. Dá imensa pena vê-lo aí esquecido. Eu sei que não é própriamente correto, mas o que apetece é levar o quadro daí e deixá-lo à porta de um museu.
Os museus não aceitem os quadros de qualquer maneira como deve compreender, mas percebo a intenção 😉
Fiquei maravilhada com a história do quadro, dá muita pena vê-lo deixado aí.
Descobri o teu blog hoje e estou a adorar, ótimo trabalho 🙂
Obrigado Inês!