Casa das Teias
Bem escondida, rodeada de mato e recheada de coisas para fotografar, é assim que se pode descrever de forma rápida esta pequena casa, que apelidei de “casa das teias” por motivos óbvios. Num sábado de manhã, com chuva e vento, num daqueles dias que são impróprios para andar na rua, fui visitar esta casa, não sabia que o tempo ia estar tão mau quando planeei o fim de semana, mas como já estava combinado, lá fui.
O dia estava péssimo, mas o local era tão interessante que rapidamente me esqueci do resto. Todas as divisões desta casa estavam preenchidas de coisas, a mais interessante, a meu ver, era a sala, com a mesa de jantar, os quadros, uma vitrine e um armário com utensílios e claro, a enorme mala de viagem com gavetas. Nunca tinha visto, nem tinha conhecimento da existência de uma mala destas, por fora parece quase um baú devido ao tamanho e por dentro tinha gavetas, provavelmente foi o elemento mais interessante que encontrei na casa.
Vim depois a perceber, através de um diário que encontrei, que o dono da casa trabalhou num navio, provavelmente fazia parte da tripulação, daí o casaco branco dentro da mala. No diário, de uma senhora brasileira, era possível encontrar vários testemunhos da própria, onde indicava estar farta de estar sozinha porque o seu marido passava meses no mar, inclusive numa das páginas contava como foi a passagem de natal, a senhora ficou a saber que o marido não ia conseguir chegar a tempo de passar o natal com ela e resolveu voltar ao Brasil, para visitar a família e passar esta época festiva com eles.
Numa das páginas do diário, a senhora relembra como conheceu o marido, curiosamente através de um cruzeiro em que ela estava a participar e o seu futuro marido a trabalhar. Não refere pormenores, mas diz ter saudades daqueles tempos, numa altura que tudo parecia mais ser mais fácil.
Para conseguir contar um pouco da história de cada casa, normalmente o que faço é tirar algumas fotos com o telemóvel aos documentos/papéis que vou encontrando para depois mais tarde ler com calma e construir os textos. Em nenhum momento vi referência a filhos no diário e não sei porque razão a casa ficou abandonada. Esta é daquelas (poucas), que posso dizer estava totalmente intacta, as coisas não pareciam remexidas, nem parecia terem roubado nada, simplesmente ficou parada no tempo e esquecida.
Muito giro. É espectacular quando a casa está intacta. Provavelmente a última pessoa a entrar depois de ti foram os donos há muitos anos.
Muito provavelmente João. Tenho curiosidade para saber como está o local actualmente… Espero que continue igual.
A mala aberta é uma espécie de metáfora dessa casa, mas também de outras onde ainda mora gente. Há sempre alguém que parte.
As suas fotos inspiraram-me a voltar à escrita e agradeço -lhe por isso.
Agradeço o comentário Elisabeth, obrigado 🙂
Espetacular, muita difícil encontrar. Abandonado assim, pena nunca ter conseguido encontrar um assim, está brutal e não deveria ser vandalizado, um siteo assim merece ficar intacto como está.
Sem dúvida João, da minha parte a localização ficará no segredo dos deuses 🙂
Meu que casas que tu visitas! Um dia destes quando não tiver nada, chamo o meu pai e vamos explorar contigo. Mostras-me uns spots e se eu tiver também te mostro 💪🏽