Casa da Dona Amália

Viveu nesta casa uma senhora até aos 89 anos. Após falecer, a casa foi remexida, nota-se que foram roubadas coisas, mas curiosamente ficaram para trás duas singers que ninguém teve coragem para tirar, provavelmente devido ao peso. Também ficaram algumas cartas, quadros e outros objetos sem grande relevância.

A D. Amália foi professora numa escola primária, viveu uma longa vida, teve duas filhas, que ela e o marido criaram nesta casa. Numa das cartas, a D. Amália relata à irmã mais nova que está muito feliz porque vai ser bisavó, que nunca esperou viver tanto tempo e ter a oportunidade de ver mais um elemento da família nascer. A carta tinha a data de 1998, foi a carta mais recente que encontrei na casa, passaram por isso 21 anos, a senhora Amália deve ter falecido e hoje a sua bisneta possivelmente deve andar na universidade, quem sabe a formar-se para ser professora, como a bisavó foi.

Às vezes dou por mim não só a pensar nas histórias que passaram por aquela casa, mas também por onde será que andam os descendentes. Quando comecei a visitar locais abandonados, não conseguia perceber porque razão estas casas estavam assim abandonadas, como é que os herdeiros deixam as coisas assim? Mas agora, passado alguns anos a fazer este hobby, sempre que vejo uma casa como esta, percebo perfeitamente.

É uma casa de aldeia, uma casa que está podre, que eu ao entrar coloquei um pé num buraco e só não fui ter à cave porque não calhou. Hoje em dia, as pessoas vivem nas cidades e esquecem as aldeias pequenas, ninguém quer gastar dinheiro a recuperar uma casa velha da família, querem sim comprar uma nova ou pelo menos mais recente e melhor localizada e deixam estas casas esquecidas. E por muito que me custe ver casas assim, compreendo que não seja viável investir dinheiro nelas, esta é mais uma que um dia vai acabar como uma ruína, vai ser esse o seu destino, muito provavelmente.

 

André Ramalho

Sou um apaixonado por fotografia e locais abandonados, e por isso resolvi criar este blog, com o intuito de partilhar os meus registos e aventuras.

11 thoughts on “Casa da Dona Amália”

  1. Ver as fotografias que o André tira e publica, causam-me um misto de encanto e tristeza. Compreendo que não seja fácil recuperar estas casas, mas há peças – como cartas e fotografias – que eu nunca deixaria abandonadas.

  2. É algo de que tenho receio, casas abandonadas. Pelos bichos, pelas salas de chuto que se tornam e por, por exemplo aqui à beira, encontrou-se um cadáver de uma mulher que se suicidou. Coragem a tua!

    danielasilvaoficial.blogspot.com

    1. Por vezes é preciso ultrapassar os nossos receios, é isso que faço sempre que vou fotografar abandonados. Claro que não vou sozinho, e tenho certos cuidados. Obrigado pelo comentário Daniela!

      1. Tanta gente sem onde morar …
        Enfim
        Porque não vendem por valores simbólicos estes lugares a pessoas necessitadas?

  3. como faz para lidar com os insectos? uma vez entrei numa casa e ia sendo comido vivo por pulgas, tive cerca de 2h a mata-las 🙁

    1. Acho que teve azar José, sinceramente nunca tive problemas com pulgas. É normal encontrar aranhas, teias de aranhas, ratos… muito muito pó, mas nada de problemático, em último caso levo uma mascara.

  4. Fico muito entristecida com o modo que as pessoas abandonam as casas e as coisas que em si e por si sozinhas contam histórias.
    A foto do esposo da professora com as filhas deles é linda (assim como a casa e a letra dela nas cartas ao lado da foto) e me traz muita nostalgia e pena.
    Deixar algo se acabar assim é como jogar no lixo a vida de alguém. 🙁

  5. Olá André, adorei o seu trabalho!
    Ultimamente tenho feito a árvore genealógica da minha família que vem de descendência francesa e portuguesa e fico encantada com cada coisa que descubro.
    Eu até percebo que os descendentes não queiram investir em casas tão velhas mas é a história? Eu adoraria ter coisas, cartas e fotografias dos meus antepassados.
    Beijinhos

  6. Olá André,
    Descobri o blog por acaso, quando uma pesquisa sobre o Mosteiro de Verride, me trouxe aqui. Gostei e já percorri a maior parte dos abandonados, este tipo de testemunhos do passado, sempre me interessou!
    No caso concreto desta “Casa da Dona Amélia”, infelizmente já não existe, foi demolida para permitir a expansão do polo da saúde da Faculdade de Medicina de Coimbra. Uma pena, sempre pensei que seria preservado um edifício tão bonito.
    Parabéns pelo blog.

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